Resumo
“Quiça [...] possa funcionar como uma alternativa [...] colocar em estados de equilíbrio e desequilíbrio as potências cativadoras da música e as potências cativadoras da arquitetura, permitindo através de um jogo de interpretações [...] o sequenciamento e encadeamento de diversos temas musicais ao encadeamento e sequenciamento dos diversos espaços que formam um edifício.”
- José Luis Menegoto, A Caixa de Música (Rio de Janeio, 2009)
A partir do entendimento de que a arquitetura pode ser compreendida, assim como outras artes, como produto de um processo de concepção e sua materialização, o trabalho está inserido no tema da investigação dos meios em arquitetura. Mais especificamente, dentro do contexto contemporâneo do chamado campo ampliado da arquitetura e das artes - em que investiga-se os limites entre as disciplinas em favor de uma maior complexidade da experiência e de interpretações. O trabalho em desenvolvimento se dedica aos possíveis paralelos e transversalidades entre Arquitetura e Música.
O paralelo entre as duas artes não é novo; em toda a história temos casos em que as disciplinas - aparentemente tão distantes - foram pensadas como associadas, seja por proporções matemáticas, por acústica, conceitualmente ou culturalmente; figuram nessa lista nomes como Vitruvius, Pitágoras, Borromini, Scheiling, Wagner, Kandinsky, Xenakis, Lukas Kühne e Steven Holl. A abordagem investigada nesse trabalho, porém, é baseada em como as duas artes são percebidas e experienciadas como fenômeno. Isto é, ambas são artes essencialmente temporais, em que a percepção da obra se dá no decorrer de eventos no tempo, sejam eles sonoros ou espaciais, tácteis, luminosos, etc. Isso permite que a partir do arranjo, organização, sequenciamento e encadeamento dos elementos de seus respectivos meios (musicais/arquitetônicos) no tempo, o arquiteto ou compositor consiga propor experiências a partir de determinados movimentos, efeitos, metáforas.
Diversas experimentações foram realizadas no decorrer do trabalho, que se consolidará num último ensaio: o projeto de um percurso e uma série de intervenções arquitetônicas-escultóricas e espaços apropriáveis no Jardim Botânico de Sidney, Austrália - um jardim de predominância pitoresca de meados do século XIX e que tem o Opera House de Sidney, de Jorn Utzon como principal monumento na paisagem.
Como conceito para a elaboração do percurso e da concepção formal das intervenções foi utilizada a primeira música a ser apresentada no Opera House de Sidney (em sua inauguração em 20 de Outubro de 1973): a abertura da ópera Die Meistersinger Von Nurnberg, de Richard Wagner. A partir dos temas desenvolvidos pelo compositor, o processo procurou desenvolver também ‘temas arquitetônicos’ em sua relação com a paisagem existente, tentando propor um percurso em que o sequenciamento das diversas conformações espacias e sensoriais se baseie no sequenciamento e desenvolvimento dos diversos temas musicais da obra.
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