Buscar o prazer em uma cidade dormitório como São Gonçalo pode soar como transgressão ao esperado dos territórios periféricos. Em um contexto onde o lazer é limitado a shoppings, o lazer associado à Baía de Guanabara configura-se como uma intervenção estratégica, visando a reconexão com a paisagem guanabarina, ao mesmo tempo em que questiona a presença excessiva e desproporcional da BR-101 ao longo do litoral da cidade. A pesquisa ""Aprendendo com São Gonçalo"" mapeia categorias típicas de lazer local que orientam intervenções urbanas em potencial. Entre elas, destacam-se o ""Clube da Fé"", representado pelas igrejas evangélicas como espaços de convivência coletiva, e a ""Festa na Rua"", que simboliza os bailes funk realizados no espaço público. A partir dessas referências, o projeto se organiza em três eixos principais: mobilidade, lazer e meio ambiente. O gesto estruturante do projeto é a criação de um ""parque anfíbio"", com o florestamento de 33.000 hectares de manguezal na orla do bairro Boa Vista, em um cronograma planejado para os próximos 50 anos. A integração da cidade ao novo destino inclui a implantação de estações de BRT conectadas à BR-101 e uma nova estação de barcas, articulando fluxos locais e globais ao projeto de regeneração ambiental. O sistema de paisagem proposto considera usos transitórios das infraestruturas fixas e temporárias de plantio e economia do mangue e da pesca, que ao longo do tempo serão convertidas em estruturas de lazer associado à água. As soluções construtivas, como piscinas naturais e balsas-calçadão, são projetadas para considerar a elevação futura do nível da água na Baía, adaptando-se às previsões de mudanças ambientais e ao caráter multiespécies da biodiversidade guanabarina para a recuperação de uma região extremamente antropizada.