• Autor Ricardo Kranen Pinheiro da Silva
  • Ano 2019/2
  • Localização -22.9035, -43.2096
  • Orientador Ayara Mendo
  • Resumo

    Este projeto parte da relação que se estabelece entre um corpo morto e um corpo vivo, na verticalidade e horizontalidade, buscando entender como que a morte se espacializa dentro do espaço físico que destinamos a ela na cidade. As formas de sepultamento e a suas transformações ao longo do tempo fizeram do cemitério do caju um cemitério que, análogo à cidade que o circunscreve, estabelece uma relação de centro e periferia no seu interior. A partir do estudo do território, são identificadas então 3 situações diferentes resultantes da forma e presença dos jazigos, divididos em jazigos, dividindo-os em jazigos antigos, intermediários e contemporâneos.

    Entendendo que a relação entre vivos e mortos é diferente para cada situação, se propõe uma intervenção diferente para cada. Cada proposta tem o intuito de subverter a relação entre corpos existentes, criando novas relações. As intervenções são:

    Nivelamento – Jazigos intermediários (situação 1)

    Esta situação constitui uma paisagem intermediária entre as outras situações. Nela, ainda se faz presente algum esforço ornamental das sepulturas através de placas verticais que identificam os falecidos e suas famílias. Estes elementos verticais deixam de ser uma marcantes e específicos para uma determinada sepultura e passam a se repetir pelo espaço. Para além disso, existe um maior esforço regulador e ordenador, aonde todos os receptáculos passam a ter dimensões semelhantes.

    Identificando uma relação de intransponibilidade entre vivos e mortos, se propõe então superpor o plano dos vivos e o plano dos mortos, inserindo uma nova fileira de receptáculos no espaço destinado a circulação. Estes receptáculos podem conter tanto corpos quanto podem ser ocupados por vegetação quanto podem permanecer vazios. A circulação, antes comprimida entre sepulturas, agora ocorre de forma livre e por cima destas. Com este gesto se pretende estabelecer uma superfície de contato entre vivos e mortos, estabelecendo uma relação tátil entre os dois mundos. Para além disso, Também se pretende ressignificar a caixa que recebe o morto entendendo que esta pode conter a vida envolta pela morte, mas também romper a homogeneidade na paisagem, introduzindo a vegetação, antes restrita ao perímetro da quadra, ao interior da mesma.

    Elevação – Jazigos antigos (situação 2)

    Nesta situação, a presença de cruzes, estátuas e adornos direciona a visão para cima, configurando uma divisão da sepultura em duas partes: A inferior, onde se localiza o receptáculo, e a superior, cujos elementos se projetam verticalmente em direção ao céu, por vezes ultrapassando a altura do corpo vivo. Desta forma, os símbolos católicos ganham protagonismo neste espaço onde a presença do corpo, tanto vivo quanto morto parece ser inferiorizada.

    Nesta situação se identificam então duas relações hierarquizantes. A primeira é a relação de intransponibilidade entre o espaço destinado aos vivos e aquele destinado aos mortos. A segunda é a da inferiorização dos corpos, vivos ou mortos.

    Respondendo a essas duas hierarquias se propõe então dois gestos que constituem a operação de elevar. O primeiro é o de nivelar, com uma sepultura, o nível da circulação. Desta maneira além de se estabelece a superfície de contato vida/morte como na operação de nivelar, alterando a relação corpo vivo e a sepultura superior. O segundo gesto é preencher as circulações adjacentes com sepulturas-muro. Ao elevar as sepulturas em ritmo alternado, estas novas sepulturas diluem a hierarquia entre as partes superior e inferior dos jazigos existentes.

    Por fim, os dois gestos configuram então de um receptáculo dos vivos, aonde a morte passa também a conter a vida.

    Escavação – Jazigos Contemporâneos (situação 3)

    Nesta situação, as sepulturas perderam totalmente o caráter ornamental e passam a constituir um ambiente árido e completamente homogeneizado. A maior parte dos jazigos não está identificado, fazendo-se impossível saber se alguém foi sepultado no local. Mais distante da parte central do cemitério, a vegetação passa a ser menos presente.

    Se propõe então que a vegetação, antes restrita à circulação das ruas passe a penetrar no interior da quadra. Para tal, se retira o piso em concreto, inserindo esta vida não humana nas relações entre humanos, vivos ou mortos. Para além disso se propõe revelar o dreno subterrâneo que corta o local em direção ao exterior, que a partir de uma escavação configura um novo espaço que se volta para este novo canal. Nas suas paredes localizam-se nichos de sepulturas que, assim como os mausoléus, se estabelecem ao redor de um eixo.


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