Resumo
Pensar sobre a arquitetura da infraestrutura é especular sobre o espaço infraestrutural, sobre o limite, como campo de projeto. Associados à lógica de acesso aos recursos das centralidades metropolitanas, projetos de infraestrutura de mobilidade prometem conectar a cidade segregada. Contudo, ao nos aproximarmos dessas linhas, percebemos que a conexão ‘centro-periferia’ está alienada de outros fatores que vão além da distância e da promessa do acesso. Há um lapso de planejamento entre a escala metropolitana e a local que se materializa na dificuldade de implantação desses corpos infraestruturais. Isso é observado, na sua condição comum de limite. Este trabalho parte do interesse em investigar sobre as relações urbanas e arquitetônicas que se estabeleceram com essas infraestruturas de mobilidade, em especial a ferroviária. Ela que foi implantada durante a primeira onda de crescimento periférico descontínuo, representa uma importante fonte de como essa lógica, se desenvolveu. Fixada nos ramais Japeri e Paracambi, a investigação parte de duas leituras do recorte da linha ferroviária. A primeira se dá a partir da análise tipológica e urbana das estações, que podem ser descritas como arquiteturas articuladoras de fluxo. Encontramos nelas a oportunidade de compreender nesses elementos arquitetônicos, que já nascem junto à lógica infraestrutural ferroviária, a sua dupla condição de aparato metropolitano e local. Essas arquiteturas periféricas são configuradas pelo campo do ordinário, do cotidiano e por isso são banalizadas. Contudo, disposição e repetição desses objetos, revelam um repertório de casos de como esse elemento comum foi absorvido pela periferia. A segunda leitura busca discutir sobre a espessura da linha infraestrutural, da sua condição de limite. Essas duas leituras são organizadas em formato de catálogo e atuam como primeiro repertório de projeto. O debate que se estimula através do projeto é o de que diante da monumentalidade das linhas infraestruturais, a escala intermediária, a do objeto arquitetônico pode atuar como importante ponto de mediação entre as demandas das escalas metropolitana e local. A ‘estação ensaio’ recupera no repertório do catálogo estratégias de desenho. Se utiliza das lições do banal sobre as rampas, as passarelas e os muros como elementos importantes dessa arquitetura que lida com espaço infraestrutural . A outra dimensão que se especula é dessa arquitetura como infraestrutura, que não serve apenas aos atravessamentos, mas dá suporte a diversos cenários de apropriação desses lugares de fluxo. A reivindicação do espaço infraestrutural também ocorre nos trechos entre estações, onde a partir das faixas resíduo da linha ferroviária e dos pontos de atravessamento se especula sobre possibilidades de desenho margem infraestrutural.
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