• Autor Gabriella Rebello Kolandra
  • Ano 2019/1
  • Coorientador Igor de Vetyemy
  • Resumo

    Sabe-se que a atual região portuária do Rio de Janeiro é uma espécie de sobreposição de camadas mal resolvida. A cidade vive sobre fantasmas, sua memória majoritariamente negra e pobre foi combatida e apagada ao longo da história, por meio de políticas públicas e reformas urbanas racistas e higienistas. O trabalho surge de uma angústia ligada a uma região que se mostra como força de resistência desde que se consolidou e agora passa por mais um intenso processo de transformação: o projeto Porto Maravilha. A pesquisa se propôs a investigar o processo de apagamento de camadas urbanas presentes na região portuária do Rio de Janeiro ao longo da história para, assim, estabelecer um paralelo com a produção do espaço urbano de hoje. Considerada porta de entrada e caixa de ressonância para o Brasil, a cidade-porto do Rio de Janeiro, desde sua consolidação como cidade em meados do séculos XVI, tem sua identidade construída a partir de imigrações e migrações, invasões e confrontos. O cais do Valongo, ali situado, foi o núcleo central de uma área portuária pela qual chegou a maior quantidade de mulheres e homens escravizados em todo o continente: chegaram neste local mais de 700 mil africanos escravizados. Entende-se, desta forma, que memória e imaginário na região portuária estão intimamente ligados a um fato histórico: o período escravagista e suas consequências. Aqui, onde vinha o mar, exposição constituída como narrativa histórico-poética, exposta a atravessamentos e transversalidades de diferentes vozes e tempos que se cruzam, conta e revela, por meio de um conjunto de obras históricas e contemporâneas, objetos e documentos, parte de uma história coletada em vestígios e pedaços. Recorre-se à produção de arte nacional, basicamente por artistas contemporâneos negros, para explorar a história e a memória – em constante transformação – da zona portuária da cidade. Propõe-se uma estrutura expositiva modular e independente, que sirva como suporte para uma curadoria de obras. A estrutura como um todo é composta por quatro núcleos, cada um com a sua importância para a produção dessa narrativa. São eles: “para europeu ver”, “cultura do porto”, “Porto Maravilha: uma novidade?” e “resiliência e periferia”. A estrutura modular, de fácil montagem e baixo custo, foi pensada para dar à mostra um caráter itinerante, que permita que ela seja montada em diversos pontos e, assim, que sirva como crítica à produção do espaço urbano e seja um convite à reflexão sobre a democratização do espaço público.


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