• Autor Roberto Takao Yamaki
  • Ano 2016/2
  • Orientador Eunice Bomfim Rocha
  • Coorientador Luiz Alberto Pereira
  • Resumo

    "Exemplo da ação do aparato repressivo em Niterói, o Estádio Caio Martins, foi usado como prisão imediatamente após o golpe. Na cidade, marcada pela atividade sindicalista, tamanho foi o número de detidos naquele período, que o Estado lançou mão de espaços alternativos para alocar os milhares de presos. Foi o primeiro estádio/prisão de que se tem notícia, expediente posteriormente utilizado no Chile, em 1973. O jornal O Fluminense dia 23 de abril de 1964, noticiava em uma de suas colunas, a chamada: “Presos vão para o Caio Martins”. Segundo a notícia, a medida, anunciada pelo Major Jairo Lery dos Santos, recém empossado chefe da Divisão de Polícia Política e Social (DPS), visava encaminhá-los para “um alojamento mais amplo”, com “melhores condições de higiene”, com a alegação de que não havia mais espaço nas prisões e delegacias, todas superlotadas por lideranças intelectuais e políticas de Niterói, que, depois pegas em suas casas e locais de trabalho, foram transferidas algemadas e debaixo de agressões físicas e verbais para o Estádio." -Relatório Comissão da Verdade em Niterói - CVN "O Estádio Caio Martins, equipamento que integra o complexo esportivo homônimo, foi inaugurado em 20 de julho de 1941. Seu nome homenageia o escoteiro Caio Vianna Martins, que em 1938, aos 15 anos de idade, sofreu um grave acidente ferroviário em Minas Gerais e recusou ajuda médica em detrimento de outros feridos. Localizado à Rua Presidente Backer, s/n Santa Rosa, Niterói/RJ, o complexo já foi palco de grandes competições esportivas, a exemplo de dois campeonatos mundiais de basquete. Contudo, o espaço carrega uma nódoa em sua história, posto ter sido o primeiro estádio de futebol da América Latina a ser utilizado como prisão. Documentos da polícia estadual, hoje de posse do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro [APERJ], atestam o uso do espaço esportivo como um cárcere instituído na ordem regular do Estado durante a ditadura civil-militar, posto a própria nominação utilizada pelo aparato repressivo, a saber, Presídio Caio Martins (KNAUSS & MAIA, 2014). Sob o comando das Forças Armadas, em especial o Exército, o presídio esteve também intimamente vinculado ao Departamento de Ordem Política e Social e à Secretaria Estadual de Segurança Pública." Cartografias da Ditadura - Tiago Régis. O projeto se trata de um Memorial dedicado às vítimas da repressão militar em Niterói - RJ, localizado no terreno do Complexo Esportivo Caio Martins. Após o golpe de 64, com intensa perseguição política de cidadãos e consequente superpopulação dos presídios nos batalhões da polícia e forças armadas, o Caio Martins viveu dias nebulosos após sua transformação em cárcere, considerado por vezes um campo de concentração. Segundo depoimentos, mais de 1200 pessoas passaram por ali, dentre elas médicos, advogados, jornalistas, motoristas ou qualquer pessoa considerada "subversiva". A construção do Memorial é uma demanda existente há anos pelas vítimas e cidadãos. O local, que faz parte da história da cidade e da memória afetiva de milhares de niteroienses, é considerado como um marco de luta contra o fascismo e a ditadura militar entre aqueles que conhecem este nefasto acontecimento. No entanto, para grande maioria da população, o Caio Martins é apenas um local dedicado aos esportes: sua transformação em presídio político não faz parte da memória da cidade. A edificação do Memorial neste terreno deverá trazer à luz toda história de luta e resistência das pessoas que foram perseguidas e mortas pelo regime militar. Sua construção deverá homenagear não apenas as pessoas que ali passaram, mas todo brasileiro que sofreu e morreu por lutar por um país democrático. "É preciso lembrar para não repetir."


Universidade Federal do Rio de Janeiro - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Midiateca FAU/UFRJ 2019 ® | Todas as imagens protegidas por direitos autorais.