Resumo
O Rio Jacaré é um corpo hidrico de 10 km de extensão. Sua nascente se localiza a 720 m de altura no Morro do Elefante, no maciço da Tijuca. Já sua foz é o Canal do Cunha, que deságua na Baia de Guanabara, no bairro Manguinhos. Sendo um dos principais cursos d'água que compõem a Bacia Faria-Timbó, o Rio Jacaré é um importante elemento preterido na paisagem da zona norte do Rio de Janeiro, tendo sido drasticamente alterado e asfixiado por ações antrópicas. Uma das características desse contexto socioambiental é a cheia, parte de um processo natural do ciclo da água (MIGUEZ et al, 2016), que nessa área se torna uma trágica problemática urbana. O presente trabalho se insere em pesquisa para o trabalho final de graduação, lançando o olhar sobre as margens ocupadas do Rio Jacaré, reunindo dados de diferentes fontes para traçar um diagnóstico multifacetado e transdisciplinar, com vistas às propostas de planejamento público no enfrentamento do racismo ambiental. O termo refere-se ao processo que populações periféricas e compostas de minorias étnicas e sociais sofrem através da degradação ambiental. A expressão mostra que a distribuição dos impactos ambientais não se dá de forma uniforme entre toda a população, sendo as classes mais vulnerabilizadas através do racismo, do capitalismo e do patriarcado, as mais afetadas pela poluição e degradação ambiental (PACHECO, 2008). A metodologia da pesquisa se estrutura em dois momentos: um de análise e outro de proposição. No primeiro momento é lançado um olhar crítico sobre as margens ocupadas do rio, através de uma revisão bibliográfica e cartográfica, que cruzam informações dos levantamentos de campo com dados divulgados oficialmente por entidades do poder público, da educação, da mídia e de organizações civis. Os aspectos políticos, sociais, históricos, culturais, ambientais, paisagísticos, urbanos e funcionais são analisados através do método de diagnóstico de lan McHarg (1969) evidenciando as articulações e processos interativos dos fenômenos sociais e ambientais. No segundo momento, são realizadas provocações através de estudos mais aproximados e aprofundados do Rio Jacaré através da ampliação do trecho que compreende Manguinhos, o ponto mais à jusante e que sofre os principais impactos ambientais trazidos ao longo do corpo hídrico. Tendo sido alvo das obras do PAC e da perpetuação das condições do racismo ambiental e das cheias urbanas, se fazem fundamentais as formulações de possibilidades, propostas e diretrizes de requalificação ambiental nesse território, visando subsidiar investigações e reivindicações semelhantes para outros trechos ao longo do Rio, de modo a conformar um sistema integrado. Desse modo, busca-se difundir possibilidades técnicas capazes de regenerar, ressignificar e reintegrar seus atributos hídricos à paisagem e às dinâmicas socioespaciais, transvertendo a visão do rio-problema (valão) em rio-potencialidade. Desse modo, o Rio Jacaré se apresenta enquanto elemento chave para recuperação ambiental do entorno, partindo do princípio da requalificação de seu ecossistema fluvial junto à sua reintegração e ressignificação na paisagem de Manguinhos. Objetiva-se provocar e disseminar meios de combater as injustiças ambientais através de estratégias apresentadas no ensaio projetual, de modo que seja replicável em outros trechos da Bacia Faria-Timbó e em casos semelhantes no Brasil.
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