Resumo
Japeri é um município carente, fruto de um processo segregacionista de industrialização. Os prejuízos podem ser vistos através da falta de investimentos em infraestrutura urbana, no meio ambiente, em atividades econômicas indesejáveis, carências sociais etc. O crescimento do tráfico também é um fator determinante para o baixo índice socioeconômico. Um reflexo disso é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município, que é o mais baixo de todo estado do Rio de Janeiro. Não faltam apenas equipamentos culturais na cidade, mas também outras necessidades como acesso à bancos, serviços públicos e privados de qualidade, principalmente referente a área da saúde, o que faz com que os moradores do município necessitem recorrer a outras cidades em busca dos serviços que não encontram em seu município. E não somente a esses serviços, mas também a oportunidades de emprego e estudo. Trazendo a questão da necessidade de recorrer a outros lugares, entra o fato de que o principal meio de transporte usado pelos moradores é o trem. O município fica a quase 70 km de distância do Rio de Janeiro, e diariamente a maior parte da população local enfrenta um percurso de aproximadamente duas horas, no mínimo, para ir e voltar. Muitas horas do dia são perdidas no deslocamento, fazendo com que Japeri seja conhecida como uma cidade dormitório, devido a distância dos grandes centros e o tempo perdido na locomoção. A partir disso entende-se que a estação ferroviária é um lugar de memória para os habitantes deste lugar e nela, a antiga Belém, existe um antigo prédio originário da estação, conhecido como Casarão, onde seu método construtivo foi inspirado em construções rústicas do norte da Europa. Durante muitos anos o Casarão estava em estado de abandono, com sua estrutura comprometida e sem uso. E nós, moradores do município, passamos por ele diariamente e só o enxergamos como uma edificação que ali estava abandonada e muitos não fazem ideia da história que ela carrega. Digo estava pois depois de muitos anos em estado de abandono, em 2010 o edifício foi valorado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e anos depois passou obras de restauro e passou a abrigar a sala de relé e a parte administrativa, já que anteriormente sua função original era a de abrigar a bilheteria da estação. As obras foram concluídas em 2019, porém pouco tempo depois, em 2020, o Casarão sofreu um fatídico incêndio que comprometeu metade de sua estrutura. Atualmente ele encontra-se isolado, mas já existe um novo projeto para o restauro pós incêndio. O sistema ferroviário brasileiro constitui-se de vários acervos de bens culturais que merecem ser valorizados para assim preservarmos a história do nosso estado e também nosso país. A rede ferroviária possuía estações com arquitetura variada e construções em ferro importadas da Europa, além de pontes e túneis notáveis. Ela foi abandonada, muitos trilhos foram retirados e construções ferroviárias valiosas foram demolidas. Além disso, muitos imóveis estão deteriorados ou foram transformados em residências, centros culturais ou bibliotecas. O INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural) elaborou um inventário a fim de identificar os bens ferroviários existentes no estado do Rio de Janeiro. Analisando mais especificamente a Linha do Centro da antiga Estrada de Ferro D. Pedro II que foi a primeira construção onde ligava o município do Rio de Janeiro até Japeri, na Baixada Fluminense, onde era o ponto terminal. A inauguração desse ramal, que foi o primeiro, ocorreu em 1858, e a partir de Japeri, a ferrovia atravessou a Serra das Araras até Barra do Piraí, chegando a uma região produtora de café, e continuou até se conectar com Juiz de Fora em Minas Gerais. São poucos os estímulos existentes que valorizam a cultura e a história local. Existem alguns grupos não governamentais que tentam disseminar arte e cultura pela cidade, mas infelizmente não existe o devido reconhecimento. Atualmente existe um espaço privado destinado a área teatral que promove momentos de arte para a população, e recentemente foi inaugurada uma biblioteca municipal. Porém, como foi citado acima, a população não tem o hábito, o estímulo, de conexão com essas questões. No âmbito educacional, com exceção das escolas, não existem espaços destinados a cursos de capacitação gratuitos para a população, e pensando nas áreas de lazer as opções também são escassas. Inquestionavelmente, os movimentos e demonstrações culturais, educativos e de lazer são fundamentais para a cidade, no entanto, é notável a falta de estruturas arquitetônicas voltadas para programas desses tipos. Em vista disso, surge a ideia de apresentar o projeto de Revitalização do Casarão Histórico e Requalificação da Estação Ferroviária, que busca trazer um novo uso para uma edificação que faz parte da história da cidade e, além disso, maximizar, estimular e promover a cultura e valorização da história local.
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