• Autor Thaiza Senna de F. L. de Carvalho
  • Ano 2014/1
  • Localização -22.911231, -43.22664
  • Resumo

    Núcleo de Cultura e Resistência Indígena Escolha do Tema e do Local O interesse pela cultura indígena esteve sempre presente na minha história e foi, sobretudo algo difícil de acessar, de obter informações precisas e devido a isso , permanecia mais no imaginário que ao meu alcance concreto. No primeiro semestre de 2013 , tive a oportunidade de cursar duas matérias no IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) da UFRJ - Antropologia Cultural e Sociedades Indígenas – e foi a partir daí que se iniciou um processo de aproximação com a cultura indígena e que surgiu a ideia de se criar um projeto de um núcleo de cultura indígena como tema do meu TFG, porém esta aproximação se deu através do olhar o antropólogo/etnólogo e eu tinha uma grande vontade de ter o contato direto com o nativo. Na mesma época inúmeros conflitos eclodiram entre os ocupantes da chamada Aldeia Maracanã, situada no edifício do antigo museu do índio, e o governo e a polícia do Rio de Janeiro e a partir dos mesmos pude perceber que não havia lugar melhor para a implantação do meu projeto. Situado no bairro do Maracanã, muito próximo ao Estádio de mesmo nome, o edifício escolhido possui uma linha do tempo na qual a relação com o indígena é muito importante e, além disso, este possui latente um caráter de resistência e de permanência que não poderiam ser ignorados. A apropriação indígena (no momento da escolha do terreno) agrega valor simbólico e imprime força e energia que não poderiam ser encontrados em nenhum outro local do Rio de Janeiro. O desejo de permanência e a resistência características dos indígenas ocupantes da Aldeia Maracanã possuem como herança a luta travada pelos indígenas desde 1500. O fato do edifício ainda existir (após inúmeras tentativas de demolição e depois de décadas de abandono) reforça o caráter de resistência latente do local. Processo de Aproximação e Ideia de Programa Inicial Algumas visitas foram feitas à Aldeia Maracanã; estas visitas tiveram grande importância no processo e na concepção do projeto e foi através delas que houve um contato com a cultura indígena através do nativo e não através da lente do antropólogo. Foi a partir das visitas que pude observar que eles desejavam criar um centro cultural “vivo”, para eles, a experiência e a troca são muito mais importantes que registros do passado. Por isso, o programa do Núcleo de cultura e resistência indígena não é específico e rígido como a maioria dos programas, ele é pulsante e mutável de acordo com o desejo de seus gestores (os próprios indígenas). O coletivo, o encontro e a troca são muito valorizados pelas culturas indígenas e por isso, um local onde as pessoas pudesse se encontrar, se reunir, conversar e trocar experiências era um local que deveria ter prioridade no projeto. Este espaço será considerado o coração do projeto e foi batizado de Espaço Oca. Outra situação que já ocorria na Aldeia Maracanã eram as diversas oficinas ministradas por eles, o caráter latente do programa em questão também está relacionado à passagem de sabedoria e devido a isso se criou um espaço voltado para aulas e oficinas, um espaço amplo cujo layout pode ser modificado de acordo com a aula a ser realizada, este espaço chama-se Espaço da Memória Falada. A memória escrita, apesar de em sua grande parte ser escrita por não indígenas, também possui relevância; o Espaço da Memória Escrita disponibiliza livros e documentos sobre a cultura indígena, além de ser um local agradável onde se pode ler numa poltrona ou numa esteira de palha. Intervenção Interna e a relação do Indígena com o espaço O indígena relaciona-se com o espaço de forma livre. Sua concepção espacial mais primária é a de um espaço amplo e fluido. O indígena está habituado a espaços não compartimentados e sobretudo compartilhados. Esta relação espacial foi inspiração para o projeto em questão, no qual as paredes externas resistem, mas a concepção interna do branco é retirada, na tentativa de se criar um espaço onde o convívio e a troca sejam privilegiados. Além do espaço livre criou-se o conceito de uma caixa permeável física e visualmente, mas que é rodeada por deambulatório que apresenta um caráter de filtro entre a cidade e o coletivo indígena no interior do edifício; este filtro prepara o usuário para esta imersão cultural na medida em que funciona como espaço expositivo da arte indígena. A caixa guarda o que há de mais importante no convívio do indígena: O coletivo, as relações interpessoais, a troca de sabedoria. A caixa é formada por ripas de madeira tramadas com fibras naturais feitas pelos próprios indígenas, como uma forma de aproximá-los do projeto e fazendo com que eles se apropriem do espaço, com que eles sintam que este local é deles. É importante frisar que não se trata de um espaço projetado especificamente para o indígena tampouco para o não indígena, mas um local criado a partir da vivência com alguns nativos, para ser compartilhado com todos. Intervenção Externa O entorno do edifício foi demolido, criando uma área sem uso específico, mas que já está sendo apropriada pelos usuários locais; isso ratifica a necessidade de criação de um espaço público nesta área livre. Este projeto visa criar um espaço agradável e que ofereça diversos tipos de atividades para o usuário. As grandes áreas permeáveis funcionam como um convite a um contato com a vegetação. O espelho d’água criado simboliza a vida e permeia todo o projeto ligando as diferentes áreas. Há um grande círculo para livre apropriação do usuário e que simboliza a coletividade, conceito muito importante para os índios. Pérgolas de madeira, como uma alusão à caixa-filtro da área interna permeiam todo o espaço, criando diferentes ambientes. Há espaços voltados para a prática de ginástica, brincadeiras infantis, alimentação e repouso. Um Jardim memorial, com esculturas diversas, é previsto como homenagem às populações indígenas e como uma forma de despertar a curiosidade das pessoas e atraí-las para o Núcleo, além de funcionar como uma camada temporal a ser atravessada para a chegada à área interna.


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