Diante do intenso processo de desindustrialização das metrópoles, diversos equipamentos arquitetônicos industriais que fizeram parte da construção e história das cidades, se encontram ameaçados de desaparecimento devido à sua obsolescência funcional, ao crescimento e modernização das cidades e à consequente pressão especulativa. Entretanto, a partir dos anos 1960, a preocupação com o legado industrial tornou-se mais acentuada, catalisada principalmente pela destruição de edifícios significativos para a memória arquitetônica mundial - Bolsa de Carvão e Estação Euston em Londres e o Mercado Central de Paris - acirrando as discussões referentes à preservação da memória destes patrimônios arquitetônicos. Mas como preservar estes bens, na maioria dos casos abandonados, subtraindo-os de um desaparecimento? A versatilidade dos edifícios industriais ligada às suas características tipológicas, formais e espaciais e o forte potencial econômico atrelado, em muitos casos, à função estratégica que as antigas áreas industriais adquiriram na cidade contemporânea, facilita a sua adaptação a múltiplos usos, desconsiderando muitas vezes as suas próprias especificidades e “vocações”. Teóricos como Giovanni Carbonara, Christian Norberg-Schulz e Jane Jacobs estabeleceram significativas reflexões para a compreensão das necessidades da cidade contemporânea, visando à manutenção da memória arquitetônica, preservação do espírito do lugar e o estímulo ao multifuncionalismo como ferramenta para o desenvolvimento urbano. Os projetos que visam a requalificação e recuperação de instalações devolutas, representam um instrumento significativo para a revitalização das cidades, pois objetivam “costurar” novamente estes edifícios na trama urbana fortalecendo toda a malha ao redor. Sendo assim, o presente trabalho busca propor um projeto de requalificação para o edifício da antiga Fábrica Bhering, localizada na zona portuária do Rio de janeiro, visto que a mesma sofreu com uma ocupação orgânica de artistas e microempreendedores da cidade, mas sem os devidos planejamentos arquitetônicos e urbanísticos, ocasionando uma ocupação que não corresponde ao potencial máximo de desenvolvimento da região em que a mesma está iserida.