• Autor Luan Schueler Soares
  • Ano 2019/2
  • Tema(s)
  • Localização -22.840375, -43.278142
  • Orientador Marina Correia
  • Resumo

    Hackeando Cidades é um trabalho que busca compreender a relação que as cidades contemporâneas estabelecem com o território ferroviário. Sendo uma infraestrutura de mobilidade urbana e espaço comum entre a população, este desempenha um importante papel no funcionamento da cidade. Deste modo, seu entendimento como um artefato utilizado pela multidão implica proporcio- nalmente em sua importância como espaço social e de troca dentre agentes de inumeros setores. A palavra “hackear” significa entrar em um sistema, des- cobrindo suas fragilidades no intuito de melhorar o modelo e prevenir futuras adversidades. Neste projeto é assimilado como o mapeamento de falhas na relação que o trem estabelece com a malha, buscando uma releitura do espaço ferroviário e de suas bordas para reconquistar a conexão entre malhas e desen- cadar novas dinâmicas neste espaço. No século XX, o Rio de Janeiro e múltiplas cidades no mundo assimilaram o modelo de plano urbanístico em vigência e isso afetou o espaço comum. Com as rodovias subtraindo a zona do pedestre, aliado à consolidação do carro como principal meio de locomoção, as cidades se expandiram de modo desen- freado e a importância do trem no contidiano se tornou pouco estimulada. O trem possui uma condição dupla, visto como uma barreira para a escala huma- na e como conector em escala geográfica, seu deslocamento linear cria uma ruptura que estabelece um hiato entre territórios, configurando um mundo interno em seus limites que não tem relação com o lugar em qual ele se inse- re, mas sim com seus elementos construtivos, que são replicados ao redor do mundo. Muito se tem discutido, recentemente, acerca da expansão do campo da ar- quitetura para a reconfiguração de grandes contextos urbanos, infraestruturas, sistemas urbanos e problemas rurais. Questões que antes eram confinadas no campo da engenharia e ecologia, hoje são abertas para que alcancemos novas técnicas e possibilidades formais. Hashim Sarkis, em seu texto “Scales of the Earth” aponta que o modernismo como um modelo altamente reproduzido no mundo, gerou paisagens semelhantes e espacialidades que transformaram nos- so entendimento sobre o conceito de conectivdade. A Penha, no Rio de Janeiro, é um bairro que sofreu uma fragmentação pelo trem e se desenvolveu em duas áreas distintas. A malha a sudoeste possui uma estruturação voltada ao comércio, a proximidade entre o BRT e o trem a torna um importante ponto intercâmbio modal. Envolvida por um conjunto de morros que junto as barreiras presentes no bairro, esta sofre de problemas de drenagem e acessibilidade peatonal, enquanto a parte à nordeste se encontra em maior contato com os bairros adjacentes e é em grande parte residencial. O projeto busca compreender o papel que o trem desempenha no cotidiano das pessoas que vivem ali e articular ações projetuais que subverta a atual condi- ção fracionada para um bairro mais interconectado que disponha de suportes que dêem mais autonomia à população. Como base de pesquisa projetual, foi feito uma pesquisa referencial de outros contextos urbanos que não necessariamente partilhavam das mesmas condi- ções materiais de seu contexto, mas dos problemas e dinâmicas que enfrentam dia a dia. A escolha dos recortes de Cairo e Mumbai, que são lugares que tam- bém possuem uma alta taxa de assentamentos informais, sofrem de excesso populacional e questões sanitárias, é buscar uma aproximação entre lugares tão distantes, mas que herdaram problemas de uma mesma época. O estudo dos recortes selecionados possibilitaram o entendimento do espaço ferroviário com três características básicas. A primeira identificada foram seus limites, nas estações centrais as estações possuem pé direitos altos e em sua grande parte possuem uma tipologia de galpão, as estações intermediárias raramente possuem um espaço apropriado à espera ou desenvolve algum tipo de dinâmica além da imposta pela mobili- dade, gerando espaços que na maior parte do tempo se encontram ociosos. A parte entre uma estação é geralmente composta de muros ou cercas se tornou um hiato que interfere na conexão geográfica, gerando diferenças sociais den- tro de um mesmo território. Outra fator existente, é a posição que a estação ferroviária estabelece enquan- to porta de entrada de um bairro. A transição entre estações é movida pela en- trada e saída do compartimento, o momento de descida em uma estação pode ser o primeiro entendimento sobre o local, condição similar à um portal. O último entendimento adquirido foram as impermanências. O território fer- roviário tem caráter monofuncional, e por essa razão seu funcionamento se baseia apenas em realizar a troca de pessoas entre as estações. No momento que o trem parte a estação em si permanece sem exercer uma função social até o próximo trem chegar. Entender que o trem e as pessoas são partes im- permanentes de um sistema que transpõe uma relação rígida com o território, nos mostra que este pode ser repensado para estabelecer maior condição de suporte infraestrutural além da sua proposta atual. O projeto parte dos quatro recortes escolhidos, os pontos de intervenção fa- zem a costura entre os dois lados e cada recorte possui uma especificidade que reflete na intervenção proposta. Por exemplo, no recorte 01 (um) encon- tramos a linha férrea juntamente com duas vias automotivas e BRT. A distância entre as malhas ganha uma proporção enorme aqui, o que necessita de uma in- tervenção sobre esse sistema viário. Outro exemplar é o recorte 02 (dois), onde a linha férrea está entre residencias com serviços de pequeno porte e a zona comercial central da penha, com uma diferença topográfica significativa. Nesta a intervenção se desdobra criando uma rua interna entre o trem e as residen- cias, logo estas ganham uma nova fachada, a nova rua atravessa a linha férrea e acessa o lado oposto pelo subterrâneo que é constituído de áreas públicas, uma lavanderia comunitária e sanitários. O projeto tem como premissa utilizar dessas situações que aparecem também em outros contextos urbanos e se permitir buscar por diferentes respostas de como podemos reimaginar este território, se aproveitando das questões topo- gráficas e naturais que são encontradas.


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