Resumo
A casa unifamiliar é um tema pertencen- te a história da arquitetura. Trata-se de um assunto denso, extenso, complexo e super atrativo. De relevância indiscutível para o campo da arquitetura e do urbanismo. É sabido que todo o século XX é preenchido por casas paradigmáticas. Casas estas que se situam como verdadeiras peças decisi- vas na construção de um discurso arqui- tetônico. Casas Manifesto. Le Corbusier, Frank Lloyd, Mies Van der Rohe, Walter Gropious, Richard Neutra, Marcel Breuer, Alvar Aalto, Charles e Ray Eames, Philip Johnson, Louis Kahn, Tadao Ando, Álvaro Siza, Roberti Venturi, Luis Barragán, Mario Botta, Richard Meier, Lina Bo Bardi, Affon- so Eduardo Reidy, Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha e tan- tos outros, enfim; verdadeiros cânones da arquitetura, desenharam casas que refletem suas personalidades como arquitetxs e ur- banista. Por meio da Casa, disseram o que pensam que é arquitetura, vislumbraram caminhos possíveis, ensaiaram seus reper- tórios e idiossincrasias projetuais. Eviden- ciaram suas percepções de arquitetura, pai- sagem, cidade. Contribuiram precisamente com um sofisticado conteúdo. Um campo fecundo para a experimentação é a casa, aliado ao um sincero compromisso com o campo da arquitetura e urbanismo. A casa dx arquitetx, é um capítulo de tudo anteriormente mencionado. Grande par- te das personalidades citadas acima pro- jetaram para si mesmo. Vilanova Artigas, como exemplo familiar para nós, projetou a “Casinha” em 1942, um precioso exem- plar que se manisfesta de modo enérgico. A começar pela relação com o Lote, a Casinha se insere a 45o, girando-a para a esquina, eliminando as hierarquias entre fachadas. Era uma vez uma casa. Uma casa feita para nós. Uma casa que habita e nos sugere habitar de maneira franca e amorosa um determinado ponto do planeta. Uma casa movida e feita pela natureza. Artigas rompe com o programa da casa paulista sugere uma nova maneira de ha- bitar, promovendo relações sociais avan- çadas e não convecionais para o contexto da época. Artigas propõe em torno de um núcleo central, que é o núcleo hidráulico, um espaço fluido, contínuo. A cozinha de- senhada através de uma outra perspectiva. Relaciona-se com os demais espaços da casa de uma maneira justa. Artigas rompe com a cozinha remanescente da casa co- lonial. As operações projetuais, em níveis, para distinguir os espaços, são de extrema sofisticação. Interessante ressaltar como ações de projeto presentes na Casinha, se desdobraram em outras obras de Artigas, de programas alheio ao doméstico. Por fim, a Casinha e tantas outras casas brasileiras, contribuem decisivamente para a consoli- dação do movimento moderno no Brasil. Aliás, a arquitetura moderna brasileira é oficializada com o projeto de uma casa de arquiteto, a casa do Gregori Warchavichik, em 1928. Por fim, a Casa dx Arquitetx como um precioso e consciente instrumento de reflexão e exercício de projeto de arquitetu- ra e urbanismo. Toda essa constatação e compreensão sustenta o projeto da Casa do Arquite- to que se propõe como trabalho final de gradução. É através dessa vislumbrante percepção da casa, da casa manifesto, que move toda a energia para a concepção da proposta. Propõe-se dar voz a casa. E o que dirá de fato a Casa do Arquiteto? Pois bem, falará sobre a Permacultura e o pertinente questionamento sobre a construção ob- jetiva e subjetiva do espaço doméstico. A Permacultura foi desenvolvida na década de 70 por Bill Mollison e David Holmgren, dois cientistas, pesquisadores, professo- res. A Permacultura se apresenta como um im- portante eixo conceitual da proposta. Com base em seus princípios, a natureza será ar- quiteturizada da maneira mais franca pos- sível. E este objetivo se traduz na utilização de técnicas construtivas em terra, erguen- do-se estruturas, paredes, compondo chãos; técnicas de baixo impacto ao meio ambien- te, que nos remete aos nossos antepassados através de uma abordagem contemporânea. A arquitetura da Casa do Arquiteto se dis- põe a apresentar um aporte sustentável que transcende em sua sintonia com o meio ambiente. Toda a infraestrutura da edifica- ção é projetada a gerar o mínimo impacto: toda água gerada pela edificação é tratada através dos jardins filtrantes (círculos de bananeiras) e devolvidas ao meio ambiente de forma limpa. O lixo é visto como recur- so, não mais como problema. Os resíduos orgânicos gerados na cozinha são encami- nhados para as composteiras, que através de seu processo biológico de decomposição Bill e David organizaram a agricultura an- cestral, as habilidades, a sabedoria tradicio- nal e a moderna e criaram a palavra Perma- cultura. A Permacultura tem como base a ecologia e é um instrumento utilizado para a criação de ambientes sustentáveis. Além de uma metodologia multidisciplinar, a Permacultura é uma filosofia de vida. Um profundo e franco exercício que nos co- locará numa relação intensa com a Natu- reza, nos auxiliando em conceber espaços sustentáveis. Sem dúvida, um importante debate para a escola. Desde a década de 60 há uma chamada global para nossas ações humanas, do impacto que as mesmas têm sobre o meio ambiente. Evidentemente nos relacionamos de maneira negativa. Através da lógica permacultural é possível trilhar novos rumos. O relacionamento com os recursos naturais e nossas atividades antró- picas são reavaliadas em profundidade. É possível reescrever através de uma sintonia consciente com nossa grande casa, o plane- ta. retornam ao solo. O mesmo com o banhei- ro. Projeta-se o Banheiro Seco ou Compos- tável. Toda matéria expelida e gerada por nós retorna ao solo, pelo processo justo, coerente e natural, volta a ser terra, matéria base que proporciona grande parte da vida no planeta. Observa-se a natureza e cons- tata-se todas essas tecnologias sustentáveis dentro dela mesma. Apenas se tornou ar- quitetura. Ciclos se inciando e fechando. Tudo dentro de um movimento circular. Válido salientar que toda essa abordagem promove uma outra relação com a cidade. A casa não participa da infraestrutura de rede de esgoto e da existência dos aterros Sanitários, atitude esta que contribui para um resultado indubitavelmente positivo. A Casa do Arquiteto não se fecha ou nega a cidade, ao contrário, quer sê-la da melhor forma possível. Tratando-se do espaço interno da casa, como este se apresenta? Como é engendra- do toda a morfologia espacial dos espaços que definem o habitar? Que é sala, cozinha, quarto, banheiro? O que é espaço social, íntimo e serviço? A proposta busca esta in- vestigação. É sabido que relações estabele- cidas em sociedade, se reverberam dentro do espaço da casa. Nossas relações em so- ciedade estão dentro do espaço que habi- tamos. E que e quais relações são essas? Os espaços internos da casa são carregados de valores morais, questioná-los é uma atitude prudente e saudável.
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