• Um resgate à memória de um rio-identidade: a revalorização do Rio Carioca no bairro Cosme Velho retornar à pesquisa
  • Autor Millena Pimentel Bustilho
  • Ano 2018/2
  • Localização -22.940611, -43.198278
  • Resumo

    As paisagens dos rios urbanos nas cidades brasileiras, em geral, se apresentam degradadas, não sendo diferente na cidade do Rio de Janeiro, que possui 267 rios e canais em seu território, que em parte, encontram-se gravemente comprometidos em seus aspectos ambientais. A partir de uma visão patrimonial, do entendimento de que a água é o elemento necessário à sobrevivência humana e a importância da utilização sensata dos recursos naturais, este trabalho aborda a tentativa de recuperação de rios urbanos e de áreas degradadas, colocando o Rio Carioca como protagonista deste conceito, devido a sua importância histórica em relação ao surgimento e expansão da cidade do Rio de Janeiro, visto que o processo de ocupação urbana e transformação da paisagem ao longo de seu curso hídrico está diretamente ligado com diversos momentos da história da cidade. Ao longo do trajeto, se encontram vários monumentos preservados como o Reservatório da Carioca e Caixa da Mãe d'água, o Largo do Boticário, a Bica da Rainha, os arcos da Lapa, o chafariz da Praça XV e diversas outras edificações, atestando o papel deste curso d'água na construção da paisagem cultural carioca. No passado, as águas do Rio Carioca já eram veneradas pelos índios Tamoios quando aqui chegaram os portugueses e atribuíam às suas águas virtudes notáveis, pois “suavizavam as vozes e aformoseavam os semblantes”, segundo o historiador Magalhães Corrêa. Atualmente, o Rio Carioca encontra-se às margens da vida na cidade e deságua poluído, na Praia do Flamengo, gravemente comprometido em seus aspectos ambientais. Este trabalho apresenta uma nova abordagem na relação entre os recursos hídricos, o espaço público e as pessoas, desenvolvendo estudos de intervenções urbanas, paisagísticas e arquitetônicas ao longo do percurso do rio, com foco na tentativa de revalorizar o rio-identidade, hoje comprometido e escondido dos habitantes que batizou, cobrar com mais medidas sua despoluição e devolver à cidade do Rio de Janeiro áreas verdes, silêncio e parte de sua história. No projeto, foi elaborado um plano estratégico geral de intervenção (masterplan) que abrange o percurso do Rio Carioca a partir do Reservatório da Carioca, localizado no bairro de Santa Teresa, até sua desembocadura, na Praia do Flamengo. No trajeto, foram mapeados os trechos que se encontram a céu aberto e os trechos canalizados/subterrâneos, sendo indicados, também, as principais edificações históricas associadas com processo de ocupação territorial ao longo do rio. A partir da percepção do potencial transformador da utilização dos recursos hídricos no contexto urbano, foram indicados locais estratégicos, como largos e praças, para atuações diretas que incluem diferentes tipos de modalidades de intervenção como: ampliação do leito e recuperação das matas ciliares nos locais onde o Rio Carioca percorre comprometido a céu aberto, requalificação dos espaços livres públicos adjacentes às margens, integração com o patrimônio histórico edificado, instalações artísticas interativas e, também, ações mais radicais, através da reabertura de trechos do Rio Carioca, tornando-o visível novamente em um cenário urbano densamente ocupado. Em relação aos principais recortes trabalhados, a atuação no bairro Cosme Velho propõe a requalificação e reestruturação urbana da região, selecionada por se tratar de um local onde o Rio Carioca ressurge a céu aberto, de forma descontextualizada, e devido a uma série de transtornos urbanos identificados em sua ambiência. A proposta assume a decisão de reforçar a memória sobre o rio, ainda percebida na população local, e consolidar o patrimônio histórico edificado do entorno com um patrimônio histórico natural (o Rio Carioca), por meio da criação de um corredor de passagem que valoriza a contemplação do pedestre e potencializa a percepção do conjunto e de seu entorno. No bairro vizinho e conhecida pelos moradores da região como ‘museu a céu aberto’ devido a uma série de esculturas e placas informativas que homenageiam o falecido aviador Carlo del Prete, a praça de mesmo nome localiza-se no coração do bairro de Laranjeiras, o qual uma extensão do local atualmente encontra-se degradada e utilizada como estacionamento público. Nesta extensão da praça, a forma triangular da mesma e sua implantação na malha urbana desfavorece uma modalidade de intervenção semelhante a adotada no bairro Cosme Velho, como a reabertura e ampliação do leito do rio e a recomposição de mata ciliar. Dito isto, o projeto aposta em uma modalidade de intervenção mais emblemática que proporcione uma interação entre o rio Carioca com os transeuntes, obtida por meio da reabertura de um trecho e a utilização de um piso de vidro resistente, no qual o pedestre pode contemplar um percurso impulsionado também por um pavilhão cuja estrutura paramétrica remete o movimento de suas águas, além de atuar como um marco referencial e informativo sobre a presença do rio na cidade.


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