O sentimento de abandono de um bem ou de algum objeto nosso que está quebrado, largado, inútil e ocupando espaço, nos causa incômodo e nos lembra que deveríamos estar usando- o ou nos traz a ideia de que não deveríamos tê-lo adquirido. Com o passar do tempo e das gerações, quando o bem não é restaurado ou reutilizado, esse sentimento some. Quando se trata de um edifício, por muitas vezes não nos incomodamos, às vezes até demoramos a perceber que ele está desocupado, vazio, sem trabalhar como deveria, e isso é contraditório, pois boa parte das vezes o edifício está no meio urbano onde o solo é escasso e com um valor elevado, pois sempre há a necessidade de se construir na cidade, seja um hospital, uma escola, um centro comercial, uma área de lazer; acredito que isso não seja tão sensível à população mesmo ela sendo dona dos edifícios, quando públicos. Na época em que o edifício do Mercado Municipal Feliciano Sodré foi construído, a região havia sido recentemente aterrada para a construção do porto da cidade de Niterói. O mesmo tinha por finalidade abrigar os comerciantes do Mercado Municipal que havia sido demolido para dar lugar à estação das barcas. Algumas décadas depois, por determinação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, suas atividades foram encerradas e, mais tarde, foi utilizado como depósito pela Prefeitura. Quando sua última função lhe foi retirada, este permaneceu fechado e inutilizado por 30 anos. Em 2017, foi aberto o edital para obras de revitalização e concessão da área, porém o projeto apresentado pelo edital não valorizava o edifício do mercado como um elemento possuidor de passado. Entendo que o arquiteto é mais sensível a esse incômodo e acredito que ele tem competência para propor soluções para essas situações, por isso estou assumindo esse trabalho, para sentir na prática o que um arquiteto pode fazer, e tentar devolver esse edifício deteriorado como um edifício recuperado e útil para a população. O presente trabalho tem como intenção realizar um projeto, em caráter acadêmico, para recuperação de um grande edifício desativado, devolvendo a ele um uso próximo ao seu original, proporcionando à cidade mais um espaço de lazer e comércio. OBJETIVO GERAL: Trazer de volta ao uso o edifício do antigo Mercado Municipal de Niterói. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Criar um polo gastronômico e de referência que seja marcante para o Rio de Janeiro como os que existem em outras cidades, por exemplo, Mercado Municipal de São Paulo e de Belo Horizonte. Fazer uma releitura dos parâmetros do edital do concurso de concessão daquela área procurando obter um resultado diferente - que atenda melhor a região. Reavivar uma relevante memória da cidade de Niterói. Transformar o edifício e o seu terreno numa área de lazer e comércio que possa ser atrativa e útil para a região, dentro do universo da gastronomia. Recuperar a área do terreno do mercado. APRESENTAÇÃO DA ÁREA A área de intervenção está localizada numa região de passagem, entre uma das pontas da Alameda São Boaventura, alguns dos acessos à ponte Rio-Niterói e uma bifurcação que leva ao centro de Niterói e à região de Icaraí. O acesso que seria feito pela fachada principal do edifício histórico está bloqueado devido à saída do mergulhão da Praça Renascença, também devido a este a rua lateral do edifício se tornou uma rua sem saída. A área de intervenção possui um terreno de 13100m2, com o edifício do mercado tendo 3200m2, em seu entorno imediato existe uma grande quantidade de edificações institucionais que atraem certo número de pessoas à região, mas que só funcionam nos dias de semana e em horário comercial. Existem algumas edificações comerciais e empresariais - caracterizadas por pátios e galpões- , que funcionam em horário comercial, e dentre elas há de se destacar o hipermercado Extra que funciona todos os dias da semana, em longos turnos e atrai uma grande quantidade de pessoas à região. E também existe uma área residencial, não diretamente ligada ao mercado, mas com proximidade.