• Autor Klauss de Souza Borges
  • Ano 2017/2
  • Localização -22.905049, -43.190783
  • Resumo

    Hoje um trecho do território cuja vitalidade dura apenas o horário comercial, o Centro se encontra convulsionado devido a uma sobrecarga de demandas metropolitanas. Talvez a intervenção urbanística mais agressiva no processo de mortificação do Centro tenha sido a abertura da Avenida Presidente Vargas, segregando-o morfologicamente em duas porções distintas que ainda não tornaram a se integrar, à norte e sul da avenida. Hoje consagrado como um centro financeiro da cidade do Rio de Janeiro, o Centro é um dos bairros dotados da mais alta qualidade infraestrutural dentro do município. Porém visto apenas como o território do trabalho - e legislado para tal - o bairro se esvazia durante a outra metade do dia e sua ambiência se transforma completamente. Os grupos que hoje habitam essa porção da cidade não são suficientes para povoar o espaço público e resguardar sua vitalidade. Esses clusters habitacionais são, em geral, de ocupações, cortiços e alguns conjuntos habitacionais, cujas condições de vida estão longe do ideal, porém oferecem baixo ou nenhum custo e a possibilidade de moradia numa área central, configurando assim uma demanda existente não apenas por moradia no Centro. Em contrapartida, o projeto de cidade que vem sendo realizado é o de uma cidade segregadora, cujo espraiamento compulsório e seletivo das classes menos favorecidas, seleciona quem tem direito a usufruir da cidade em sua plenitude, despositando a população vulnerável dentro de continentes arquitetônicos de baixa qualidade em contextos mal ou não servidos de infraestrutura básica. Dessa forma, a proposta do projeto consiste numa tentativa de balanceamento da equação entre global e local, metrópole e cidade, virtual e real, através de uma demanda concreta. O Plano/Projeto consiste em 3 etapadas concatenadas a fim de gerar o processo catártico do habitar o Centro, tendo como principal premissa utilizar a mesma Avenida Presidente Vargas que um dia fragmentou o território como eixo conector. A primeira etapa consiste no reuso de edifícios de interesse patrimonial catalogados pelas APAC’s do Corredor Cultural e das SAGAS que estejam vazios ou subutilizados. Permitem-se intervenções a fim de adensá-los verticalmente, no caso de edificações preservadas, desde que em harmonia com a paisagem urbana pré-existente, a fim de garantir a concretude da memória da cidade. Quando tombados, a estratégia vale para o reuso da edificação, desde que dentro dos parâmetros estabelecidos pela instância de tombamento. A segunda etapa se aplica para as porções mais internas do bairro como também às margens da Avenida Preisdente Vargas e consiste na promoção de uma outra forma de uso do solo para os vazios remanescentes. A proposição é a de que o novo uso do solo seja mais hibridizado, concentrando habitações de diferentes perfis, a fim de promover a mistura de classes, comércios de diferentes escalas e equipamento que incentivem a sistematização da fruição do espaço público. Os parâmetros de elencamento desses vazios são obviamente de terrenos vazios, porém quaisquer outras edificações cuja densidade construtiva seja incompatível com o valor do solo, cuja função seja estéril e transferível ou que seja estritamente monofuncional. A terceira etapa consiste no fechamento das duas faixas centrais da Avenida Presidente Vargas para a implantação de um novo eixo de quadras dando continuidade à malha existente, indo da Candelária, passando pelo Canal do Mangue até a Cidade Nova em. As quadras são propostas já imbuídas da noção do uso híbrido do solo citado anteriormente e são dotadas de uma forma porosa pertinente a fluidez metropolitana do trecho. A forma das quadras se altera ao longo da intervenção, se adequando às peculiaridades das situações confrontadas ao longo da via e deixa intervalos entre a massa arquitetônica proposta como forma de convite à conexão física com as edificações das margens, a fim de sistematizar os espaços livres e oferta de equipamentos, bem como capilarizar a efervescência da vida urbana para todo o Centro.


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