O presente trabalho nasce da inquietação mediante a espaços residuais na cidade. Espaços ora definidos como terrain vague, ora definidos como não-lugares. Espaços sem limites definidos, abandonados, sem uso, degradados, subutilizados, obsoletos, esquecidos, mal aproveitados. O crescimento das cidades nem sempre acontece de forma ordenada ou planejada. Tendo como foco a cidade do Rio de Janeiro, pode-se observar que uma de suas características mais marcantes é a dificuldade em articular as diferentes camadas de tempo que se sobrepõe ao tecido urbano. A evolução urbana do Rio é marcada por tentativas de impor o novo sobre o velho. A área de intervenção escolhida fica localizada na Avenida Francisco Bicalho, entre os bairros de Santo Cristo e São Cristóvão, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Um espaço que consiste em um conjunto de resíduos urbanos, cujos elementos morfológicos mantêm um difícil diálogo: o Canal do Mangue, invisibilizado e poluído; os baixios dos Viadutos do Gasômetro, Perimetral e Binário do Porto, que são uma grande extensão de terra sem função definida, escura, descuidada e insegura; as pernas remanescentes da Perimetral, uma cicatriz que evidencia as dissonâncias resultantes da descontinuidade no processo de planejamento urbano da cidade; o terreno da antiga CEG, que se encontra vazio, com grande acúmulo de lixo, caracterizando igualmente a desocupação que resulta no aspecto de abandono daquela área. Este projeto busca atuar neste recorte central da cidade do Rio de Janeiro a fim de encontrar soluções que sirvam para ressignificar esse espaço na vida urbana da sociedade. De forma que ele seja totalmente público, acessível, tenha múltiplos usos e a escala e a prioridade do pedestre sejam retomadas. Convidando, assim, a uma maior ocupação do lugar e transformando a maneira como ele é visto e vivido.