Resumo
O pequeno município de Vassouras foi outrora palco de relevantes acontecimentos históricos do Brasil, havendo destaque em sua participação no Ciclo do Café, ocasião na qual despontou como umas das maiores produtoras da região do Vale do Paraíba. Os primeiros registros de sua configuração territorial datam de 1823, quando João Teixeira Gomes fez doações de terra a Nossa Senhora da Conceição, para nelas se construir uma igreja. No entanto, é após a chegada das famílias mineiras de Correia e Castro e Teixeira Leite oriundas de Mariana e São João del Rei, que inicia-se o processo de povoamento efetivo da região, até a sua elevação à condição de vila e, posteriormente, de cidade. Desde então, Vassouras há sido moldada em diferentes dinâmicas de prosperidade, as quais são observadas, sobretudo, no período áureo do café e em sua subsequente decadência, bem como na incessante luta para manter-se e desenvolver-se. Vassouras surgiu nas terras da antiga sesmaria de Vassouras e Rio Bonito pertencente à Luiz Homem de Azevedo e Francisco Rodrigues Alves. Com a decadência do ouro em Minas Gerais, duas outras famílias se mudam para a região: os Correia e Castro vinda de Mariana e os Teixeira Leite vinda de S. João del Rei e iniciam a exploração da terra, sendo responsáveis pela implementação do café como atividade econômica. Embora em pequenas proporções, a produção começa a crescer e a cidade a desenvolver-se. Em pouco tempo, Vassouras passa de vila à cidade, sob o título de Princesinha do Café. As principais famílias, a princípio compostas de pequenos proprietários de terra e patriarcas exploradores da região, logo dão lugar aos barões, baronesas e doutores, os quais prosperam financeiramente, levando à cidade inovações em todos os setores da vida social. As casas, que até então traziam sua marca e semelhança às de Minas Gerais, passam a ser ornamentadas e ampliadas conforme a moda da capital; a política, o urbanismo, e a cultura também recebem forte investimento dos barões, benfeitores da região. A cidade ficou conhecida como Princesinha do Café devido às suas imponentes e numerosas fazendas, verdadeiros impérios responsáveis por expressiva quantidade de café produzido no Brasil. Além dos barões do café, as cidades constituíam-se de aproximadamente 25 mil escravos, os quais trabalhavam nas lavouras e na manutenção do lar de seus senhorios. A tradição escravista atrelada à grande população negra explorada resultou em revoluções, formação de quilombos e diversas outras manifestações desesperadas por liberdade. Diversas personalidades da época do Ciclo do Café ainda são ícones onhecidos na cultura local, a exemplo de Manuel do Congo, líder da revolução escrava de 13 de novembro de 1838 na região. Destaque também para Eufrásia Teixeira Leite, herdeira de uma das maiores e mais abastadas famílias de vassouras e amante não confessa de Joaquim Nabuco, a cidade deixou maior parte de sua herança. Outra figura de grande relevância no período e bastante presente na memória local é Joaquim Teixeira Leite, homem visionário e pai de Eufrásia; um dos primeiros homens a libertar todos os seus escravos, já prevendo a abolição. Após a abolição da escravatura e a escassez na produção do café, Vassouras diminui drasticamente seu ritmo de crescimento. A falência atinge famílias inteiras, acarretando na venda e abandono de diversas propriedades, tanto fazendas quanto palacetes residenciais urbanos. Embora havendo adotado a pecuária como atividade econômica do pós-crise, a cidade de vassouras jamais restabeleceria o desenvolvimento do período áureo. Em 2003 surgem iniciativas para de resgate das fazendas de café, com o objetivo de preservar a arquitetura e potencializar o turismo local. Paralelamente é criado o Festival de Música do Vale do Café, liderado pela harpista Cristina Braga, com a proposta de levar concertos às fazendas históricas , medida que proporcionou maior entrada de capital na região. O festival, que cresceu e abrangeu também a cidade de Vassouras, logo possibilitou maior visibilidade e reconhecimento turístico às diversas manifestações culturais tradicionais. Apesar de consideradas patrimônio imaterial, o jongo, a caninha verde , o calango, o maculelê, a capoeira e outras diversas manifestações culturais presentes nas festas tradicionais do calendário vassourense, ainda não possuem sede, patrocínio ou incentivo, de forma que sua transmissão às gerações futuras é hoje feita através de ensinos informais e familiares. A ideia de instaurar um local de ensino apropriado a tais manifestações, ao mesmo tempo favorecendo sua preservação enquanto patrimônio imaterial, veio ao encontro de uma necessidade identificada quando de minha estadia pela cidade, dessa vez na paisagem urbana local: a manutenção da arquitetura dos casarões urbanos. A casa localizada no perímetro tombado pelo IPHAN pertenceu ao 2o Barão do Amparo, e se encontra hoje em estado de abandono, à mercê do tempo. E poderia acolher o programa proposto, aliando assim a arquitetura dos barões à cultura escrava. A fim de garantir à viabilidade do projeto, tendo em mente questões econômicas que atingem hoje a manifestação de cultura, arte e educação em nosso país, a proposta de reutilização da casa com uso institucional, sediado por uma universidade (Severino Sobra ou UFRJ) proporcionaria maiores investimentos , reconhecimento e valorização não só da cultura, como das pessoas que dela se constituem, proporcionando a expansão de conhecimento e integrando comunidade, turismo e educação em um único plano: A incubadora de tradições – Escola de Música para Vassouras.
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